Artigo - O desenvolvimento do BRICS e seus próximos passos
- Liga de Comércio Internacional PUC-Rio
- 17 de out. de 2023
- 5 min de leitura

Por: Lecticia Duarte
O BRICS é uma associação internacional que representa um grupo de países emergentes mundialmente, sendo composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e a África do Sul. Sua criação deu início em 2001, informalmente, com o economista britânico Jim O’Neill, do banco Goldman Sachs. Em primeira instância, seus participantes eram os países de rápido crescimento, sendo eles Brasil, Rússia, Índia e China, com o objetivo de destacar o potencial de crescimento econômico destes países e a possível influência deles no sistema financeiro global. Após 10 anos de sua criação, em 2011, com a ocorrência da III Cúpula, houve a adição de um novo membro, a África do Sul. Assim, o grupo passou a ser o acrônimo BRICS, conforme é conhecido até hoje. Com a Cúpula de 2023 do grupo, novos países, dentre eles Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Arábia Saudita, devem formalizar sua entrada no BRICS em 2024.
Os principais objetivos do BRICS são a cooperação econômica, que busca o investimento e o comércio entre os países membros, o que fortalece as economias, aumentando a participação no mercado internacional. Além disso, a cooperação política, que procura coordenar posicionamentos em questões globais, dentre elas segurança, meio ambiente, direitos humanos e reforma das instituições financeiras internacionais. Ademais, o grupo visa também o desenvolvimento sustentável, onde os membros da associação devem se comprometer em abordar os desafios relacionados à sustentabilidade e ao desenvolvimento social em seus respectivos territórios.
Com a ocorrência da Cúpula do BRICS de 2023, muitos assuntos vieram à tona. O destaque deste encontro foi o esforço para estabelecer uma nova ordem global. Se por um lado a China e a Índia vem avançando como centros de inovação, por outro, outros membros vêm enfrentando desafios econômicos e tensões geopolíticas. Dessa forma, a reunião foi voltada para a discussão de problemas internos, incluindo reformas na ONU, rivalidades territoriais, além da proposta de uma nova moeda lastreada em ouro.
A presença do BRICS na economia:
O estágio de desenvolvimento econômico que os países do BRICS se encontram é muito diferente do que foi previsto pelo criador do grupo em 2001. O ritmo de crescimento destes países e suas dinâmicas são muito diferentes dos mitos e das expectativas que foram criadas, como dito anteriormente. De acordo com o Banco Mundial, os atuais participantes do bloco representam metade da população mundial e contribuíram, em 2022, com 31,5% do PIB Global, que foi calculado em termos de Paridade Poder de Compra (PPC), o que mostra que ultrapassaram os países que participam do G7, que contribuíram com 30,7%.
Além disso, pode-se dizer que o grupo vive duas realidades diferentes, principalmente na última década, pois o desempenho e a dinâmica econômica dos BRICS se tornou mais díspare. De um lado, temos a China e a Índia, que nos últimos anos vem se destacando como centros tecnológicos e de inovação. A primeira nação, vem em uma crescente de sua competitividade e domínio da indústria global, com seu setor industrial gerando 33,2% do seu PIB total. Com isso, o PIB chinês se tornou o quádruplo dos outros quatro membros do grupo. O segundo país também está crescendo bastante, estando em sétimo lugar nas maiores economias do mundo. A situação dos membros restantes é bem diferente, até por serem dependentes de condições macroeconômicas globais que sejam boas, valorizando o preço de importação de seus bens primários e recursos energéticos. O Brasil e a África do Sul, por dificuldades com desajustes fiscais e com a instabilidade política, acabaram mantendo suas economias estagnadas durante esta última década. Diferente destes países, a Rússia se destacou em relação à energia, se tornando uma potência, sendo um dos maiores exportadores de gás e petróleo. Porém, por conta da guerra, ela está bastante abalada.
No gráfico a seguir, podemos ver a diferença entre os países do bloco, com um lado bastante combalido, enquanto outro está cada vez mais próspero.
Comparação da participação sobre o PIB-Mundial entre dois núcleos dinâmicos do bloco de 1992 a 2021 (em %):

Fonte: Plataforma Statista, com base no relatório “World Economic Outlook abril de 2023” publicado pelo FMI;
Um grande esforço que o bloco vem fazendo nos últimos tempos é para se estabelecer como uma alternativa ao mainstream ocidental, buscando assumir os papéis de fórum diplomático e financeiro internacional. Em 2014, se teve a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), assim dando chance ao BRICS de se estabelecer como uma alternativa ao Banco Mundial e ao FMI, permitindo que o grupo esteja apto para o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento.
A relação entre os membros do BRICS:
A aliança do BRICS sempre foi bastante questionada, principalmente por englobar países que, historicamente, tanto são aliados quanto adversários do Ocidente, criando uma situação complexa dentro do bloco, até por países como Brasil, África do Sul e Índia apoiarem o discurso Ocidental, mas também ajudarem a Rússia e a China a competir com a hegemonia ocidental.
Dentro do bloco, cada país tem suas opiniões e pensamentos, podendo concordar e discordar de outro país, o que acaba causando algumas tensões internas. No caso, por exemplo, da Rússia e da África do Sul, as duas nações concordam que não se deve aceitar a violação de soberania por parte dos países ocidentais, mas acabam divergindo em certas coisas, como na questão de armas nucleares, onde as duas possuem posições contrárias, com a Rússia sendo a favor e a África do Sul contra.
As divergências externas também são recorrentes, principalmente no momento que o grupo está passando. A Rússia e a China vêm sendo alvo de críticas e sanções por parte do Ocidente, especialmente por conta de tensões políticas, como agora, na crise na Ucrânia. Assim, é inevitável que isso não abale o grupo internamente.
O BRICS atualmente:
O bloco vem em uma alta crescente, representando quase um terço da atividade econômica mundial. Com isso, eles estão tentando lançar a ideia da sua própria moeda de reserva global, assim tentando quebrar o domínio que o dólar americano possui desde o colapso de Bretton Woods em 1971, além de tentar facilitar as trocas comerciais entre os membros do grupo. Mas isto não será uma medida que será efetivada por agora, o presidente Lula destacou que os membros consideram estudar a ideia, para depois retomarem esta discussão em uma futura reunião. Porém, a diversidade econômica e política do grupo, além das tensões geopolíticas com a Rússia e a China, vem ameaçando o progresso do BRICS.
Efetivamente, o BRICS vem colocando metas audaciosas nos últimos anos, dentre elas a utilização da cooperação para remodelar a arquitetura política e econômica mundial em seu benefício, usando o Fórum Parlamentar do BRICS e o Diálogo de Divulgação como vias de consulta e envolvimento com vizinhos regionais e outros países interessados.
Muitos tinham receio em relação à prosperidade do bloco, mas com esta última Cúpula do BRICS de 2023, as esperanças voltaram, até por eles darem seu terceiro grande passo. Com este último encontro, ficou definido a entrada de novos países no grupo, dentre eles Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Arábia Saudita, o que demonstra a vitalidade política dele e que pretendem buscar progresso e não finalizar a parceria entre os países membros.
Portanto, é inegável que o BRICS é bastante importante para a economia mundial. Mesmo com seus desafios e questões, ainda sim o grupo está em alta crescente, e pretende prosperar bastante. Com seus últimos passos e discursos, o bloco vem se demonstrando cada vez com mais força e vontade, o desejo de mudar a ordem mundial.
Bibliografia:
CAMPOS, Mateus. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/bric.htm#:~:text=O%20Brics%20%C3%A9%20um%20agrupamento,China%20e%20%C3%81frica%20do%20Sul
GUITARRARA, Paloma. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/bric.htm
NADIR, Mohammed et al. A Cimeira dos BRICS 2023: a procura de uma Nova Ordem Mundial. Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil, 8 de agosto de 2023. Disponível em: https://opeb.org/2023/08/08/a-cimeira-dos-brics-2023-a-procura-de-uma-nova-ordem-mundial/
OLIVEIRA, M. de. PIB dos Brics ultrapassa o dos países do G7. Monitor Mercantil, 28 de março de 2023. Fatos e Comentários. Disponível em: https://monitormercantil.com.br/pib-dos-brics-ultrapassa-o-dos-paises-do-g7/
ROMANO, Giorgio. Brics dá em 2023 seu terceiro grande passo: 'o resto do mundo' busca protagonismo. Brasil de Fato, São Paulo, 28 de agosto de 2023. Opinião. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2023/08/28/brics-da-em-2023-seu-terceiro-grande-passo-o-resto-do-mundo-busca-protagonismo
Lula confirma criação de uma moeda comum dos BRICS para facilitar trocas comerciais. CNN Brasil, 24 de Agosto de 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/lula-confirma-criacao-de-uma-moeda-comum-do-brics-para-facilitar-trocas-comerciais/
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