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A Balança de Poder e a Economia Estadunidense

Atualizado: 7 de abr. de 2024

Por: Izadora Levi Pacheco Pereira Roque

Editado por: Joaquim Chavez



Tema: Os EUA e seu uso econômico/comercial para garantir seu lugar na balança de poder internacional. 


É notória a influência dos Estados Unidos sobre a balança de poder internacional. Uma fala de um representante do Estado Americano repercute por jornais ao redor do mundo; o que acontece no Senado Americano é analisado por internacionalistas de diversos cantos do globo. O poder estadunidense vai desde ir contra resoluções do CSNU, Conselho de Segurança da ONU, até qualquer percalço em sua economia mexer com as cotações monetárias internacionais e podendo até gerar uma crise mundial, como em 2008. Neste artigo será exposto a maneira como o país utilizou/utiliza da economia e do mercado comercial internacional para se manter nessa posição. Será utilizado a contextualização desde o período entre guerras até os dias atuais para tal argumento. 


Ao fim da Primeira Guerra Mundial a economia da Europa estava em decadência. Eles precisavam reconstruir seu país, se reestruturar politicamente, e organizar uma maneira de pagar o que eles deviam aos Estados Unidos durante a guerra. Além das potências europeias estarem a procura de resoluções para suas questões domésticas, o liberalismo político estava em um momento de institucionalização com a criação da Liga das Nações, e os países europeus estavam iniciando a agenda de paz internacional,  que foi ainda mais dificultada com a saída dos EUA da organização  que foi criada pelo presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson. 


A proibição do Senado Americano para a entrada dos Estados Unidos na Liga levou ao início de seu isolamento da política internacional. O que em meio a um momento de reestruturação europeia em conjunto com um pensamento político utópico institucionalizado e mal executado da Liga das Nações, acabou gerando o estopim para mais uma guerra indesejada. Na qual o Japão conseguiu retirar os EUA de sua posição isolada.


Ao assumir um papel tão importante na guerra, os Estados Unidos saíram de sua posição confortável para um papel de extrema influência na Balança de Poder. Era necessário o uso de uma política monetária, e econômica, no geral, diferente da utilizada na guerra anterior. Tal política defendida pelo Secretário do Tesouro americano Andrew W. Mellon, quem, até sua saída do cargo em 1932, acreditava numa resolução cíclica da economia, em que não era necessário a intervenção Estadunidense na economia mundial e que a Europa conseguiria voltar ao seu estado de normalidade econômica por conta própria.


Neste momento, em 1944, o oposto é aplicado, a extrema intervenção americana é iniciada. Foram criados na Conferência de Bretton Woods o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), com o dólar sendo o escolhido para se tornar a moeda de troca internacional, podendo ser convertido diretamente do ouro, a política monetária dólar-ouro; levando com que a economia Americana se tornasse a base da economia mundial. 


O momento político também não poderia ter uma posição diferente dos Estados Unidos. Devemos lembrar que esse momento era pautado pelo início da Guerra Fria, em que a Rússia e os EUA se encontravam em uma ávida disputa em todos os quesitos, cultural, econômico, bélico, etc, para conseguir um domínio econômico e de influência no resto do globo. O que resulta em políticas como o Plano Marshall, que constava de uma ajuda financeira para a reconstrução da Europa financiada diretamente pelo Tesouro Americano.


As escolhas políticas tomadas pelo país norte americano eram observadas a todo momento, o que tornava a balança de poder voltada para os dois polos já citados, e não mais focada no continente Europeu.


Um dos primeiros usos da economia e do mercado para garantir a posição dos EUA na balança de poder foi com o  GATT, General Agreement on Trade and Tariffs, foi criado em 1947 para iniciar as discussões para uma abertura do mercado, uma liberalização do comércio internacional, baixando tarifas e criando um favorecimento para as trocas entre os países. Essa atitude não era meramente uma demonstração de altruísmo dos EUA, e sim uma maneira de se colocar um bloqueio do Comunismo Soviético, garantindo a posição superior do capitalismo americano. Um dos primeiros usos da economia e do mercado para garantir a posição dos EUA na balança de poder.


Neste momento, também era observado o surgimento de várias organizações internacionais (OIs), para abrir um diálogo entre a sociedade internacional a fim de evitar mais guerras. A própria ONU, com o CSNU garantindo uma cadeira permanente e o poder de veto em qualquer resolução para os EUA. Os fatores apresentados expõem a conquista de poder por meio dos Estados Unidos. 


A Europa, então, se tornava dependente politicamente dos Estados Unidos e tanto da moeda americana para qualquer transação internacional, quanto de empréstimos do tesouro americano para conseguir manter uma certa estabilidade econômica. E com essas novas "OIs", com fator central americano, o país se elevou a uma influência difícil de ser evitada. 


Todavia, todos esses fatores não implicam que o país americano esteja com uma economia ou política doméstica perfeita. Já em 1971, o presidente Nixon se viu sem outra opção a não ser fazer um pronunciamento, admitindo que o dólar já não podia mais ser convertido diretamente em ouro. Dessa forma, podia-se ser observado o início da primeira crise do dólar. A grande circulação da moeda era um dos fatores principais da crise, o que foi logo percebido e reduzido pelos secretários do tesouro. O menor fluxo da moeda levou a implementação das euromoedas, que nesse caso eram dólares alocados fora dos Estados Unidos e com uma certa independência da balança americana. 


Mesmo que isso pudesse parecer um enfraquecimento do poder econômico americano, na verdade era o oposto, prova-se agora que independentemente de como o tesouro americano se encontrava, o mundo continuava dependente do dólar, e iria encontrar uma maneira de continuar a usá-lo. Embora os dólares utilizados fossem em forma de euromoedas, ainda era a cotação americana sendo utilizada, esse fato, mesmo que negligenciado, ainda contribui para uma imagem superior dos EUA. 


Isso pôde ser comprovado com a diminuição da taxa de importação norte-americana chegando a 20% do total dos países industrializados, enquanto suas exportações caíram de 33% para 19%, demonstrando o impacto da crise no seu mercado exterior. Enquanto isso as reservas de eurodólares saíam de 15% das reservas em importações, para 31%. Isso dos anos ‘50 até o fim dos anos ‘70.  Não podemos ignorar que nesse momento iniciava-se o primeiro “choque” da Crise do Petróleo, da qual tem grandes impactos nas políticas econômicas mundiais.  


O país americano estava em momento de aprendizado de como ser uma grande potência e as consequências oriundas disso. Em 1973 os Estados Unidos se posicionaram a favor de Israel na Guerra do Yom Kippur, do qual foi um conflito entre uma coalizão de estados árabes contra Israel pela disputa do território invadido por Israel quase dez anos antes na Guerra dos Seis Dias; gerando um embargo dos participantes da OPEP, Organização dos Países Exportadores de Petróleo, contra ele, por em sua maioria serem países participantes ou aliados da OPEP. Nesse momento, o país americano aprendeu em primeira mão os riscos de uma posição tão ativa no sistema internacional, enquanto ele usava deste conflito como uma proxy war, confronto entre potências usando um conflito menor de outros Estados fora de seus territórios para suprir uma disputa de interesses maior; mesmo que essa competição fosse feita fora dos EUA e da URSS tais potências ainda foram afetadas pela comunidade internacional, se eles influenciam outros Estados, eles também são influenciados por eles. 


A crise do Petróleo afetando o Estado americano não diminuiu a dependência internacional da comunidade com os EUA, algo primeiro observado em 1929 agora não podia ser negado. Todos os países foram afetados por essa crise, mas nem isso foi suficiente para deixarem de lado o monopólio econômico que os Estados Unidos possuíam com os países do Ocidente. De maneira que, mesmo com essa grande crise que passou por uma década, com diversos desdobramentos, a resposta para a desvalorização da moeda, que agora o mundo inteiro era dependente e que já se mostrava como algo perigoso,  foi o Acordo de Plaza em 1985 e o Acordo do Louvre em 1987, visados para articular a desvalorização ordenada da moeda americana, e conter os excessos da moeda, respectivamente. Com essas políticas, que o mundo todo contribuiu, quando em 1987 a bolsa de Nova York quebrou como em 1929, o resultado não foi tão catastrófico quanto havia sido antes; o sistema já estava preparado para ser atrelado aos altos e baixos da economia norte-americana, e o próprio país americano já estava preparado para se reerguer diante de uma crise mundial.


Ademais, essas crises e dificuldades econômicas levavam a uma abertura cada vez maior de um ambiente de diálogo entre os países, para uma procura de maneiras mais eficientes de se comercializar. As rodadas do GATT, cada vez mais, buscavam mais pontos de discussão e não focavam somente na abertura comercial. Todavia, a maneira com que o GATT se organizava já não era mais ideal, gerando em conflitos na Rodada do Uruguai de 1986 que até os dias de hoje não foi encerrada, porém criou a Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995 da qual existe até os dias atuais e contribui de maneira expressiva para a melhora de trocas comerciais  justas para os seus participantes. 


 Em 1989 caía o Muro de Berlim, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), começava seu período de assolação. Não existiam mais dúvidas de quem controlava a cultura, economia, e política do Sistema Internacional. Os presidentes americanos não temiam suas colocações, uma escolha econômica estadunidense era repercutida pelo globo, até de maneira de admiração do resto do mundo. A crise de 2008 e seus impactos geraram uma insatisfação, mas em nenhum momento um pensamento de reforma do sistema. Suas políticas econômicas eram pensadas em como afetariam o resto do mundo, como poderiam ajudar os países do globo. Sua política doméstica era uma política voltada para o internacional. 


O seu monopólio não era desafiado até o surgimento do “boom chinês” em 2010 a China ultrapassou o Japão no rankeamento das maiores economias mundiais. O “fantasma” chinês começava a ser algo normal no globo, os produtos made in china já eram o dia a dia. A divisão internacional do trabalho (DIT), dos chips levava aos próprios EUA a dependerem do país asiático, o que obviamente não agradava o país norte americano. 

A comodidade em ser o país hegemônico, e a insatisfação com o crescimento chinês começou a gerar políticas mais voltadas para o mercado interno e políticas domésticas dos EUA, uma volta do nacionalismo econômico, e uma vontade de ignorar o internacional. Esses sentimentos foram consolidados com a eleição do Presidente Donald Trump, um político que em um mandato conseguiu mudar completamente a política americana, fazendo com que todos os estudos de política externa do país terem que ser repensados, já não era mais previsível as tomadas de decisão do país, as incoerências com o governo anterior eram imensas. Como se luta com uma bipolaridade do Sistema Internacional se não se olha para o Sistema?


Esse efeito leva a um problema de política doméstica também, uma grande bipolaridade interna gera choques políticos e um afastamento cada vez maior entre seus dois lados políticos, os republicanos e democratas. Um país que sempre incentivou o livre comércio agora aumenta tarifas, cria barreiras, volta a um protecionismo não visto há quase um século.


Mesmo com a entrada do Presidente Joe Biden na pandemia, o estrago já estava feito. O comércio pelos EUA já não é previsível, a dúvida das posições a serem tomadas sobrevoam as negociações. Essa situação ainda continuará dessa maneira imprevisível enquanto a polarização interna do país continuar. A cada ano a China cresce mais, e os EUA se preocupam mais. As eleições do ano de 2024 podem piorar ou melhorar a situação, a possível vitória do ex Presidente Trump pode “bagunçar” novamente o sistema, e só poderemos concluir os resultados quando isso acontecer ou não. 


A Balança de Poder Internacional é dependente dos Estados Unidos, e os Estados Unidos são dependentes da Balança de Poder. A Economia do Sistema Internacional é moldada pelos EUA, mas atualmente não só por ele, mas pela China também. Começa-se o período de um novo estudo econômico-político sobre nosso sistema. Um estudo que só poderá ser feito enquanto as ocasiões vão surgindo. 



 
 
 

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