Artigo - Como o conflito entre Irã e Israel afeta o petróleo?
- Liga de Comércio Internacional PUC-Rio
- 15 de mai. de 2024
- 5 min de leitura
Por: Gabriela de Almeida Maciel
Por: Manuel Augusto Moreno
INTRODUÇÃO
Em meio a guerra entre Israel e Hamas, mais um conflito vem se escalando. Desde o bombardeio à embaixada do Irã na Síria, que resultou na morte de três comandantes da Guarda Revolucionária iraniana, o país se posicionou fortemente contra Israel e deixou claro que iria revidar. Considerando que os envolvidos representam grande influência no mercado de petróleo mundial, suas movimentações passaram a ser analisadas atentamente. De fato, os ataques foram correspondidos, o que bagunçou de vez o cenário internacional. Nessa perspectiva, como o preço do petróleo e, consequentemente, o comércio internacional foram afetados com tais acontecimentos?
A ESCALADA DO CONFLITO ENTRE IRÃ E ISRAEL
presenciou o ataque surpresa do Hamas a Israel. Desde então, ambos travam uma guerra mortífera, que além de afetar a vida dos que vivem em ambos os territórios, resultando em mais de 30.000 mortos, também vem atingindo todo o planeta de diferentes maneiras. Com um conflito de tal porte em uma região fundamental no que diz respeito ao petróleo, o mercado de energia global passou a se atentar ao conflito e ajustar suas expectativas. Na segunda-feira após o primeiro ataque, em meio ao temor de a guerra se espalhar para além de Gaza, o Brent (petróleo produzido no Mar do Norte na Europa, e negociado em Londres) e o WTI (petróleo produzido no West Texas nos EUA e negociado no mercado de Nova York) subiram mais de 3,50 dólares. Entretanto, já no dia seguinte sofreram quedas em seus preços de respectivamente 1,12% e 1,16%. Dessa forma, é evidente o quanto esse mercado tem estado instável devido tais acontecimentos.
Mais recentemente, em primeiro de abril de 2024, houve a primeira rusga entre Israel e Irã. Em tal data, o primeiro país bombardeou a embaixada iraniana na Síria, matando três comandantes de sua Guarda Revolucionária. Após o ocorrido, o presidente iraniano Ebrahim Raisi declarou que o ataque ao consulado não ficaria sem uma resposta, enxergando tal atitude como terrorista. Assim sendo, a promessa foi cumprida no dia treze de abril, o qual o Irã lançou dezenas de mísseis contra Israel, escalando o conflito para níveis não antes vistos. Com a retaliação, membros do gabinete de guerra israelense passaram a analisar possíveis formas de resposta, considerando desde opções militares a diplomáticas. Nesse cenário, Israel atacou uma base militar em Isfahan, uma das maiores cidades iranianas. Desse modo, a Agência Internacional de Energia soltou uma nota destacando que o aprofundamento do conflito aumenta "o risco de volatilidade nos mercados de petróleo e (fornece) um novo lembrete da importância da segurança do petróleo".
CONSEQUÊNCIAS PARA O PETRÓLEO
Uma das grandes preocupações quanto a uma possível escalada do conflito entre os dois países diz respeito ao Estreito de Ormuz. De acordo com Richard Bronze, cofundador e analista da empresa de dados Energy Aspects, tal região é o ponto de estrangulamento mais importante do mercado global de petróleo. Isso pois, tal via navegável estreita na fronteira sul do Irã é responsável por fluir diariamente mais de um quarto do comércio marítimo global de petróleo. Com isso, caso a situação fique mais tensa, há uma possibilidade de ataques iranianos aos navios petroleiros que passam pelo local e até mesmo de um bloqueio total do estreito por Teerã. Mesmo que a probabilidade de que isso ocorra seja baixa, o mercado se atentou ao fato de que "qualquer interrupção significativa teria um enorme impacto sobre os suprimentos do petróleo e, consequentemente, sobre os preços do petróleo", como acrescentou Richard Bronze.
Considerando que o Estreito de Ormuz "é a principal ou única rota para os exportadores de petróleo do Oriente Médio", como os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos, seu bloqueio causaria uma grande revolta no cenário global de energia. Devido aos possíveis prejuízos que afetariam ambos os lados, é esperado que o conflito não escale de tal forma
Além disso, o Irã é uma das peças chaves no cenário global de energia, sendo um dos maiores produtores de petróleo do planeta e membro da OPEP. Devido a sanções internacionais de longa data, a maior parte de seu petróleo é exportado para a China. Com isso, caso as exportações de petróleo iraniano sejam reduzidas haveria um grande impacto no mercado internacional, considerando que a China precisaria buscar por demais alternativas de suprimentos, concorrendo com os demais países.
A partir da perspectiva de que um simples ataque iraniano a Israel seria capaz de resultar em tais prejuízos é de se esperar que o mercado de petróleo tenha sido muito afetado com tais acontecimentos. Porém, o que se nota após a retaliação por parte do Irã não é um aumento dos preços do petróleo. Isso se explica pelo fato de que o mercado já vinha se preparando para essa possibilidade de um ataque. Então, os preços que já haviam subido consideravelmente apenas devido à expectativa de uma escalada do conflito, se mantiveram relativamente estáveis depois que ela de fato ocorreu.
CONCLUSÃO
Portanto, podemos compreender que o conflito entre os dois países pode sim afetar os preços do petróleo mundial. Além de poder comprometer a exportação iraniana de petróleo, a guerra também pode ocasionar no bloqueio do Estreito de Ormuz, o que resultaria em um desequilíbrio no mercado internacional de energia. Com isso, levando em consideração todos esses fatores é possível perceber o porquê de os preços do petróleo terem de fato aumentado após o ataque israelense à embaixada do Irã, com a expectativa de que viria a ocorrer uma retaliação. Dessa forma, após o ataque ter sido revidado, o mercado já havia se ajustado para tal acontecimento, então não ocorreram mudanças significativas nos preços. Assim, o oriente médio segue se mostrando como uma das regiões mais importantes do planeta, ao ditar como o mercado internacional se comporta.
REFERÊNCIAS:
CARSTEN, Paul. Petróleo recua em meio a incertezas de investidores por conflito entre Israel e Hamas. CNN, 10 de outubro de 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/petroleo-recua-em-meio-a-incertezas-de-investidores-por-conflito-entre-israel-e-hamas/
HUTCHINSON, Bill. Israel-Hamas War: Timeline and key developments. Abc News, 22 de novembro de 2023. Disponível em: https://abcnews.go.com/International/timeline-surprise-rocket-attack-hamas-israel/story?id=103816006
COOBAN, Anna. How the Israel-Iran conflict could send oil prices higher. CNN, 15 de abril de 2024. Disponível em: https://edition.cnn.com/2024/04/15/energy/oil-market-iran-israel-conflict/index.html
G1: Ataque à embaixada, revide e nova ofensiva: a escalada sem precedentes entre Irã e Israel. 19 de abril de 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/04/19/escalada-entre-ira-e-israel.ghtml
KIMBALL, Spencer. Why the oil market shrugged as Iran and Israel appeared on the brink of war this week. CNBC, 20 de abril de 2024. Disponível em: https://www.cnbc.com/2024/04/20/why-oil-markets-shrugged-as-iran-and-israel-appeared-on-the-brink-of-war.html
KIMBALL, Spencer. U.S. oil rises nearly 2% to top $83 a barrel as slowing manufacturing raises interest rate cut hopes. CNBC, 23 de abril de 2024. Disponível em: https://www.cnbc.com/2024/04/23/crude-oil-prices-today.html
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