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Artigo - Da rota da seda à Belt and Road: uma análise da evolução das rotas de comércio

Por: Fernanda Azambuja, João Albuquerque e Lecticia Duarte


Fonte: PlanetaRio


Introdução


As rotas comerciais têm sido fundamentais na evolução das civilizações, impulsionando o crescimento econômico e o intercâmbio cultural. Desde tempos antigos, rotas como a Rota da Seda e as Rotas das Especiarias conectaram o Oriente e o Ocidente, facilitando a troca de mercadorias, tecnologias e crenças religiosas. A Rota da Seda, por exemplo, transportava seda chinesa para os mercados romanos e permitia o fluxo de ideias e religiões entre diferentes culturas.

O impacto econômico dessas rotas é evidente no desenvolvimento de infraestruturas como estradas, portos e armazéns, moldados por fatores geográficos, avanços tecnológicos e relações políticas. A introdução de novas tecnologias de navegação no século XV possibilitou a exploração de rotas marítimas diretas, revolucionando o comércio global. Na era moderna, as rotas comerciais permanecem vitais, com o transporte aéreo adicionando uma nova dimensão ao comércio global e as políticas comerciais influenciando sua eficiência.

Além de promoverem o comércio de bens, as rotas comerciais impactam profundamente a estrutura econômica e cultural das regiões que conectam. Elas fomentam o desenvolvimento de cidades portuárias, impulsionam a inovação tecnológica e facilitam a integração econômica global. Este artigo explora a história, a importância e o impacto contínuo das rotas comerciais no cenário global, destacando como elas moldaram e continuam a influenciar a globalização e a interdependência econômica entre as nações.


Rotas Comerciais: o que são e seus impactos


As rotas comerciais têm desempenhado um papel crucial na evolução das civilizações ao longo da história, facilitando o crescimento econômico, o intercâmbio cultural e a disseminação de ideias. Esses trajetos, que podem ser terrestres, marítimos ou aéreos, não só promovem a troca de bens materiais, como também permitem a difusão de tecnologias e culturas. Historicamente, rotas como a Rota da Seda, as Rotas das Especiarias e a Rota do Âmbar foram fundamentais para conectar o Oriente e o Ocidente. Por exemplo, a Rota da Seda não só transportava seda chinesa para os mercados romanos, mas também permitia o fluxo de ideias e religiões entre diferentes culturas, como o budismo, que se espalhou da Índia para a China através dessas rotas.

O impacto econômico das rotas comerciais é evidente em como elas influenciaram o desenvolvimento de infraestruturas como estradas, portos e armazéns, e foram moldadas por fatores geográficos, avanços tecnológicos e relações políticas. A introdução de novas tecnologias de navegação durante o século XV possibilitou a exploração de rotas marítimas diretas, como as utilizadas pelos portugueses, holandeses e ingleses para o comércio de especiarias na Indonésia, China e Japão.

Na era moderna, as rotas comerciais continuam a ser vitais. O transporte aéreo, por exemplo, adicionou uma nova dimensão ao comércio global, permitindo entregas rápidas e eficientes. A complexa rede de infraestruturas e políticas comerciais que suportam essas rotas inclui zonas econômicas especiais, tarifas alfandegárias e acordos de livre comércio, que influenciam diretamente sua eficiência e viabilidade. A importância das rotas comerciais também se reflete na maneira como elas moldaram e continuam a moldar a globalização e a interdependência econômica entre nações. As rotas comerciais permitiram que produtos e culturas se disseminassem globalmente, influenciando a culinária, as práticas culturais e até mesmo os sistemas econômicos modernos.

Essas rotas, portanto, são mais do que simples trajetos de mercadorias; elas são canais de troca cultural e inovação, fundamentais para a compreensão da dinâmica do comércio global e da interdependência econômica que define nosso mundo atual. Além de promoverem o comércio de bens, as rotas comerciais têm um impacto profundo na estrutura econômica e cultural das regiões que conectam. Elas fomentam o desenvolvimento de cidades portuárias e centros de comércio, impulsionam a inovação tecnológica e facilitam a integração econômica global. A análise das rotas comerciais contemporâneas e históricas revela a importância de uma infraestrutura robusta e políticas eficazes para sustentar o crescimento econômico e promover a paz e a cooperação internacional.

A contribuição das rotas comerciais para a disseminação de ideias e tecnologias não pode ser subestimada. Ao longo dos séculos, rotas como a Rota da Seda conectaram o Oriente e o Ocidente, permitindo o intercâmbio de conhecimentos científicos, religiosos e culturais. As navegações transatlânticas dos séculos XV e XVI abriram novas possibilidades para o comércio e colonização, resultando em um vasto intercâmbio de culturas e recursos entre os continentes.

Na atualidade, as rotas comerciais continuam a evoluir com o avanço da tecnologia e a globalização. A iniciativa do Cinturão e Rota da China, por exemplo, visa revitalizar antigas rotas comerciais e criar conexões entre a Ásia, a Europa e a África, promovendo o desenvolvimento econômico e a cooperação internacional. Essas novas rotas comerciais são sustentadas por investimentos em infraestrutura de transporte, como ferrovias de alta velocidade e portos modernos, que reduzem os custos e os tempos de transporte, tornando o comércio mais eficiente.


O Surgimento e o Declínio da Rota da Seda


Em um primeiro momento faz-se necessário analisar a origem da Rota Da Seda para que dessa maneira seja possível compreender sua importância e influência para o desenvolvimento do comércio mundial até os dias de hoje. Apesar de ser popularmente conhecido por seu nome singular, a “Rota da Seda” era composta por uma rede de vias comerciais que surgiram no período de 130 a. C., à mando da dinastia chinesa Han, visando principalmente a comercialização de produtos e especiarias entre os países dos hemisférios leste e oeste. Tais rotas ligavam a China ao Ocidente através da Índia, Ásia Menor, Mesopotâmia, África, Grécia, Roma e Grã-Bretanha, se expandindo posteriormente até a Coreia e o Japão. Com o constante desenvolvimento e importância no cenário mundial, ao passar dos anos, as redes de vias da Rota também ganharam espaço no mar, com o desenvolvimento de rotas marítimas.

O nome "Rota da Seda" se origina do comércio intenso dessa fibra têxtil luxuosa, produzida exclusivamente na China na época. A seda representava status e riqueza devido à sua qualidade, suavidade, brilho e textura excepcionais e, por isso, seu valor exorbitante a tornava uma mercadoria cobiçada por diversas culturas ao longo das rotas. No entanto, apesar do nome, diversas outras mercadorias eram comercializadas ao longo das rotas como por exemplo porcelana, pedras preciosas, chá, remédios, animais e produtos derivados, ouro, prata e até mesmo escravos. 

Além dessas mercadorias, durante seu “ápice operacional” as rotas foram importantes para o desenvolvimento do mundo como um todo, possibilitando a troca cultural e de conhecimento entre as civilizações mais distantes, o que provocou a uma difusão de inovações e o enriquecimento cultural e social dos países envolvidos, direta e indiretamente, nessa imersão. Os limites geopolíticos dos países também foram explorados e desenvolvidos ao longo dos anos com a constante utilização das rotas. Esse caminho permitiu a interação política e diplomática entre os países.  Todas essas contribuições impulsionaram não apenas o crescimento de grandes civilizações, mas também a fundamentação das bases e pilares do mundo moderno como o conhecemos hoje. Entretanto, apesar da extrema importância que a Rota exercia ao redor do mundo, a partir do século XV, uma série de eventos culminaram para o declínio da utilização da rota.

A desintegração do Império Mongol no século XIV teve um impacto devastador sobre a Rota da Seda. Após a morte de Genghis Khan, o império foi dividido entre seus descendentes, o que culminou em disputas de poder e guerras civis que enfraqueceram a unidade política que sustentava a rota. Além disso, a ascensão de senhores turcomanos nas regiões ocidentais contribuiu para a separação econômica e cultural das grandes forças políticas ao longo da rota. A gradual substituição do estilo de vida nômade dos mongóis pela construção de estados regionais sedentários, juntamente com a devastação do Mar Negro e as invasões de civilizações equipadas com pólvora, aceleraram o processo de fragmentação. O crescimento do mercantilismo na Europa, impulsionado pela pólvora, também teve um efeito negativo na Rota da Seda, pois o nível de unidade alcançado sob o domínio mongol não pôde ser mantido, e o comércio declinou, apesar do crescimento do comércio marítimo europeu. Finalmente, a ascensão da dinastia Ming na China em 1368 trouxe uma política de isolamento que barrou novamente os contatos comerciais terrestres da Rota da Seda, enquanto o revivalismo islâmico na Ásia Central também contribuiu para a diminuição do comércio, levando ao declínio da Rota da Seda como uma rota comercial ativa no final da Idade Média.

Outro marco crucial para o declínio foi o bloqueio imposto pelo Império Otomano, que abrangia grande parte do território por onde as rotas passavam. Após conquistar Constantinopla, o império decidiu boicotar o comércio com o Ocidente, bloqueando as vias comerciais da Rota da Seda. Esse bloqueio otomano é considerado um dos principais fatores que levaram ao declínio da utilização comercial da rota da seda, uma vez que a partir do bloqueio, os europeus se viram forçados a procurarem novas rotas comerciais, principalmente marítimas. Umas das expedições mais significativas desse período foi a de Cristóvão Colombo, que resultou no descobrimento da América.


Rotas de Comércio na Atualidade

          As rotas de comércio sempre desempenharam um papel fundamental na economia global, conectando mercados distantes e facilitando o fluxo de bens, serviços e ideias. Na atualidade, essas rotas são ainda mais cruciais devido à interdependência econômica global, impulsionada pela globalização e avanços tecnológicos. A eficiência do transporte, a digitalização de processos e a integração logística global tornaram as rotas de comércio mais complexas e interconectadas. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio internacional de mercadorias atingiu um valor de US$ 19 trilhões em 2020, demonstrando a magnitude dessas interações (OMC, 2021).


Principais Atores e Produtos Comercializados 

           Os produtos comercializados pelas rotas de comércio variam significativamente, refletindo a diversidade das necessidades e capacidades produtivas das nações. As commodities continuam sendo fundamentais, com o petróleo e o gás natural liderando o comércio global devido à sua importância para a energia e a indústria. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), o comércio de petróleo bruto e produtos refinados totalizou cerca de 90 milhões de barris por dia em 2021 (IEA, 2021). Além das commodities, produtos manufaturados, eletrônicos, veículos e alimentos também dominam o cenário do comércio internacional. A Ásia, especialmente a China, é um dos maiores exportadores de eletrônicos, enquanto a Europa se destaca na exportação de veículos e maquinaria (OCDE, 2021). Nesse contexto, os principais atores nas rotas de comércio atuais incluem tanto países quanto corporações multinacionais. Países como Estados Unidos, China, Alemanha e Japão são líderes em comércio global, utilizando suas capacidades industriais e tecnológicas para dominar os mercados. Empresas multinacionais como Amazon, Alibaba, Maersk e MSC desempenham papéis críticos na logística e no comércio eletrônico, facilitando o movimento de bens através de complexas redes de transporte. Além disso, organizações internacionais como a OMC e o Banco Mundial criam regras e fornecem suporte financeiro para facilitar o comércio global, buscando promover um ambiente comercial justo e eficiente (OMC, 2021; Banco Mundial, 2020).


A Iniciativa Belt and Road

      Lançada pela China em 2013, a Iniciativa Belt and Road (BRI) é um dos projetos mais ambiciosos do século XXI, visando recriar a antiga Rota da Seda e expandir a influência econômica e geopolítica da China. A BRI inclui investimentos massivos em infraestrutura, conectando a China a diversas regiões da Ásia, África e Europa. De acordo com o Banco Mundial, a BRI pode aumentar o comércio global em até 6,2% e o PIB global em até 2,9% (Banco Mundial, 2021). A iniciativa busca melhorar as infraestruturas de transporte, facilitando o comércio internacional e promovendo o desenvolvimento econômico das regiões envolvidas.

             A BRI é composta por duas vertentes principais: a Silk Road Economic Belt, que atravessa o interior da Ásia até a Europa, e a 21st Century Maritime Silk Road, que conecta a China aos portos do Sudeste Asiático, Sul da Ásia, África e Europa. Esses corredores econômicos são projetados para melhorar a conectividade, reduzir os custos de transporte e promover a cooperação econômica entre os países participantes. A China tem investido significativamente em projetos de infraestrutura como ferrovias, portos e rodovias, visando criar uma rede de transporte integrada que facilite o comércio e o intercâmbio econômico (Banco Mundial, 2020).

          Tal iniciativa é frequentemente comparada à antiga Rota da Seda devido ao seu potencial transformador no comércio global. Assim como a antiga Rota da Seda facilitou o intercâmbio cultural e econômico entre o Oriente e o Ocidente, a BRI busca criar novos corredores econômicos e desenvolver infraestruturas que impulsionem o crescimento econômico regional. Segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento, a BRI poderia contribuir para a redução da pobreza e o aumento da inclusão econômica em várias regiões participantes (ADB, 2021). Além disso, a iniciativa representa uma estratégia geopolítica da China para consolidar sua posição como uma potência global, diversificando suas rotas comerciais e diminuindo sua dependência das rotas marítimas controladas por potências ocidentais (AIIB, 2021).

Em suma, foi evidenciado ao longo do artigo como as rotas comerciais, desde as mais antigas até as mais atuais contribuem de diversas maneiras para o desenvolvimento do mundo e da sociedade como um todo. Foi revelado ao longo do texto a importância vital e contínua que as rotas comerciais desempenham para o constante desenvolvimento das sociedades e do mundo.  

O artigo teve como propósito evidenciar a linha do tempo, desde a Rota da Seda, extremamente influente e novas iniciativas como a Belt and Road, popularmente conhecida como a Rota da Seda da China, que demonstram os esforços contínuos para revitalizar as cotas comerciais e consequentemente, impulsionar o desenvolvimento econômico dos países envolvidos, além de reforçar a cooperação entre esses.

Dessa maneira, é possível concluir o papel fundamental que as rotas comerciais desempenham na economia e no comércio global, conectando mercados, disseminando ideias e conhecimentos e acima de tudo fomentando o desenvolvimento dos Estados envolvidos.



Bibliografia:


WORLD HISTORY ENCYCLOPEDIA. Rota da Seda. Disponível em: https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-466/rota-da-seda/ Acesso em: 27 de Junho de 2024

WORLD HISTORY ENCYCLOPEDIA. Império Otomano. Disponível em: https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18700/imperio-otomano/ Acesso em: 27 de Junho de 2024

IBRACHINA. Conheça a história da milenar Rota da Seda. Disponível em: https://ibrachina.com.br/conheca-a-historia-da-milenar-rota-da-seda/ Acesso em: 27 de Junho de 2024

HISTHEORY. A Rota da Seda: Uma Rota de Comércio e de Religiões. Disponível em: https://histheory.tripod.com/ROTA_SEDA.html Acesso em: 27 de Junho de 2024


COCK-STARKEY, Claire. 8 Trade Routes That Shaped World History. Mentalfloss.com. Disponível em: https://www.mentalfloss.com/article/86338/8-trade-routes-shaped-world-history.

The Spice Routes: A Historical Network of Trade and Cultural Exchange. cards.algoreducation.com. Disponível em: https://cards.algoreducation.com/en/content/_qmDshAG/spice-routes-history


 
 
 

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