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Artigo - Investimento Chinês na América Latina: Brasil e Argentina


Desde o início do século XXI, a China vem aumentando sua influência sobre a América Latina de forma estratégica, fortalecendo suas relações diplomáticas e comerciais, criando assim zonas de abertura em seu jogo geopolítico. Com isso, a ascensão chinesa fez com que a América do Sul passasse a ser sede de grandes investimentos, impactando toda a estrutura e o contexto dos países em desenvolvimento.


O investimento de capital estrangeiro se dá de maneiras diversas, uma vez que dependem dos objetivos e estratégias do investidor e variam entre riscos e benefícios. De maneira resumida, se diferenciam nas categorias de investimento direto, quando aplicado na criação de novas empresas ou na participação acionária em empresas já existentes, e indireta, quando assume a forma de empréstimos e financiamentos a longo prazo.


Em específico, os investimentos chineses na América do Sul se enquadram majoritariamente como Investimento Direto Estrangeiro (IDE), pois envolvem a participação ativa e o controle direto nos focos de exploração de recursos naturais como energia, petróleo, mineração e agricultura. Com isso, visam uma exploração contínua com retornos sustentáveis a longo prazo.


Desse modo, esse artigo irá explorar as facetas do investimento chinês na América Latina — sua história, objetivos e conclusões, com foco especial no estreitamento de laços com a Argentina: principal destino de investimento de 2022.


  • INVESTIMENTO CHINÊS NA AMÉRICA LATINA

A política de internacionalização de capitais da China pode ser dividida em três períodos.

Primeiramente, a partir de 1979, com o projeto de modernização econômica pelo Conselho de Estado, apenas empresas estatais eram autorizadas a investir no exterior para facilitar as exportações. Depois, a partir de 1992, o processo se intensificou a partir de reformas jurídicas que levaram a uma diversificação de investimentos em serviços, saúde, imóveis, seguros, turismo, além de agricultura, mineração e manufatura. O terceiro período, por fim, efetivou o plano “going global” do governo chinês que visava incentivar e apoiar empresas chinesas, estatais e privadas, a expandirem suas operações e investimentos para o exterior no início dos anos 2000.


As motivações por trás dessas políticas consistiam principalmente na crescente demanda de recursos da China, como petróleo, gás , minerais e alimentos, para que pudessem sustentar seu crescimento econômico acelerado. Todavia, paralelamente, havia também uma necessidade de aproximação para a cultivação de mercados consumidores favoráveis a seus produtos, uma busca por apoio nas instituições multilaterais, e, até mesmo, uma válida necessidade de aquisição de tecnologia e conhecimento — como no caso das participações nas concessões realizadas pela Petrobras . Logo, tornou-se imprescindível a adoção de uma estratégia que permitisse uma maior inserção global.


No que tange a América do Sul, as relações comerciais e diplomáticas com a gigante asiática se desenvolveram a partir de sua adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001. Apesar de que, já anteriormente — em 1990 — com a visita do presidente chinês Yang Shangkun ao continente, era mencionado o desejo de uma aproximação política e econômica para a construção de uma ordem mais multipolar e menos assimétrica como a vigente na época. Resultando, dessa maneira, na expressiva expansão de investimentos chineses diretos nessa região ao longo das décadas.


Seu interesse primordial é voltado aos recursos naturais e energia, gerando uma concentração de investimentos no setor de energia (54,6% do total acumulado entre 2005 e 2013) e nos demais setores como cobre, aço, petróleo, soja e ferro. Além disso, há investimentos notáveis em infraestruturas que facilitam o transporte desses mesmos produtos.


Similarmente, no caso das exportações latino-americanas para a China, estão concentradas em commodities, especialmente commodities extrativas, que operam de acordo com alta demanda chinesa. Esse processo impactou diretamente a dinâmica econômica da América do Sul ao trazer investimentos, ajuste de preços com o crescimento de exportações e certa integração regional que atua de acordo com uma figura em comum. Apesar disso, tornou também essas economias, em conjunto, vulneráveis à situação chinesa que agora dependem.


Neste contexto, a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e caribenhos) se destaca como uma ferramenta essencial para a cooperação entre seus países membros e a China. Os últimos meses evidenciaram essa cooperação, como a cúpula realizada em janeiro na Argentina, na qual o presidente Xi Jinping realçou a importância dessa integração, tanto para o desenvolvimento regional quanto para a relevância global. A China foi responsável por investir mais de cem bilhões de dólares na América Latina na última década, com expectativa de crescimento de investimentos em projetos verdes e economia digital.

A América Latina é considerada uma região prioritária para aplicação de novos recursos, com previsão de mais 27 bilhões de dólares em investimentos chineses nos próximos dois anos.

  • BRASIL E ARGENTINA

Já dentro do contexto latino-americano, é relevante destacar que a China vem sendo o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Essa parceria é essencial nas relações internacionais do Brasil, que começou uma dependência de commodities e alavancou a economia brasileira.


Essa relação se deu por diversas iniciativas oriundas de diferentes interesses. Primeiramente, e de maneira crucial, destaca-se a importância do setor agropecuário, uma vez que a China é o país maior importador de soja do Brasil, explicado pela alta demanda por alimentos — além da carne bovina e frango terem papel significativo no mercado chinês. Por sua vez, o mercado brasileiro depende fortemente dessa exportação de commodities.


Em segundo plano, é relevante as relações diplomáticas entre ambos esses países. É efetiva a participação do Brasil em iniciativas internacionais juntamente com a China, como os BRICS — a parceria entre as cinco das maiores economias emergentes do mundo — e a Iniciativa do Cinturão e Rota. Dessa maneira, cria-se uma relação favorável à cooperação, além dos constantes investimentos diretos da China nos setores de energia, infraestrutura e tecnologia.


No primeiro trimestre de 2023, mais de 23% das exportações brasileiras foram para a China, e pelo lado das importações, a China forneceu quase 22% de tudo o que o Brasil comprou no exterior.


Não obstante, os laços entre Argentina e China se estreitaram significativamente no ano passado, a ponto de o país vizinho ter desbancado o Brasil como o principal destino de investimentos chineses na América Latina.


Em 2022, segundo o estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), investimentos chineses no Brasil em 2022 no setor de tecnologia e transição energética, o montante destinado por Pequim à Argentina somou US$ 1,34 bilhão, contra US$ 1,30 bilhão recebido pelos brasileiros. A Argentina foi a primeira grande economia da América do Sul a aderir o projeto de desenvolvimento chinês chamado de “Nova Rota de Seda”. Por fim, após lobby chinês, foi anunciado que a Argentina passará a integrar os BRICS a partir de 2024.

Antes de 1992, a China estava em 14º lugar no ranking de parceiros comerciais da Argentina, no entanto, nos anos seguintes, as relações econômicas entre os dois países se fortaleceram, tornando a China o segundo maior parceiro comercial da Argentina, logo após o Brasil.


Há várias razões para essa aproximação entre a Argentina e a China. Ambos os países têm um importante papel no comércio global de commodities, ou seja, produtos primários, como alimentos, minerais e recursos naturais. A Argentina é um grande exportador de commodities, incluindo carne, trigo, milho, soja, petróleo, gás e lítio.

Por outro lado, a China é o país mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes, e sua economia está em constante crescimento. Isso cria uma alta demanda por commodities para sustentar seu desenvolvimento econômico e atender às necessidades de sua população.


No entanto, a Argentina enfrenta uma escassez crônica de dólares devido a dívidas externas elevadas e crises econômicas recorrentes. Isso aumentou a dependência do país em relação à China. Além disso, há uma dimensão geopolítica envolvida: China está aumentando sua influência na América Latina, uma região que historicamente foi considerada o “quintal” dos Estados Unidos em termos da geopolítica global. A China busca expandir sua influência em todo o mundo, e a América Latina se tornou uma área importante para essa estratégia.


Portanto, a parceria entre a Argentina e a China tem raízes em necessidades econômicas mútuas, mas também reflete mudanças nas dinâmicas geopolíticas globais. A dependência da Argentina em relação à China é resultado da combinação desses fatores.




Referências:

RODRIGUES; HENDLER, Bernardo S.; Bruno. Investimento externo chinês na América

Latina e no Sudeste Asiático:uma análise de escopo, valores e setores-alvo. PUC Minas, 21 de fevereiro de 2018.


PINTO; CINTRA, Eduardo C.; Marcos Antonio M. América Latina e China: Limites econômicos e políticos ao desenvolvimento. Instituto de Economia: UFRJ, Junho de 2015.


LAU, Daniel. Uma nova era de cooperação e investimentos entre China e América Latina. KPMG, Março de 2023.


BBC News Brasil.


Radio Senado.


Metrópoles.






 
 
 

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