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Artigo - O Impacto das Multinacionais na Desigualdade Global

Por: Bruna Portocarrero Portela


Fonte: Geokratos


O desenvolvimento discrepante entre países

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os governos estabelecidos ao redor do mundo são divididos em três categorias de países: desenvolvidos, subdesenvolvidos e emergentes. A repartição dessas classes é baseada, majoritariamente, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que estabelece uma métrica de avaliação acerca dos níveis de educação, prosperidade econômica, expectativa de vida e industrialização. A partir desse parâmetro, quanto mais alto for o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mais o país está propício ao desenvolvimento, melhor a qualidade de vida de seus habitantes, menor o desemprego e pobreza, mais alta a taxa de alfabetização, e assim por diante.

Como um dos meios científico-social de entender a relação entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos foi criada a Teoria da Dependência, um pensamento econômico, proveniente da década de 1960 e aprimorado ao longo dos anos, a qual explora de forma crítica a relação de subordinação das nações periféricas às nações centrais. Estas são caracterizadas, respectivamente, como aquelas com menor e maior progressão econômica, destacando a concentração de posicionamento das regiões e a desigualdade estrutural entre os países.

No ano de 2021, durante o XIV Congresso Brasileiro De História Econômica & 15ª Conferência Internacional De História De Empresas, a Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE) publicou um artigo científico intitulado “Dependency Theory: dependency index estimation” que formulou métodos de mensuração da submissão patrimonial dos países latino-americanos em relação aos países centrais. Nesse estudo, observa-se que países periféricos, primordialmente, estabelecem políticas externas de estreitar e preferenciar relações com países centrais, em busca de alinhamento estratégico e obtenção de benefícios. No entanto, após a adoção de políticas liberais, proporciona-se uma abertura econômica, desregulamentação e liberalização do mercado, momento em que os países periféricos atingem um ponto de inflexão do seu “grau de dependência”.

A origem dessa relação, além das influências governamentais, é vigorosamente identificada por meio da infraestrutura das corporações multinacionais, que possuem suas sedes em forças econômicas como os Estados Unidos, Japão e no continente europeu. O estabelecimento de grandes empresas nos países desenvolvidos denota o acesso à tecnologia avançada, mão de obra qualificada e demografia facilitadora para a distribuição de produtos. Em contrapartida, durante a internacionalização de suas indústrias, nota-se uma preferência para o estabelecimento de operações em países subdesenvolvidos, onde destaca-se abundância de mão-de-obra barata e matéria-prima condições favoráveis para essas organizações.


Um breve contexto acerca das multinacionais

Quando se discute sobre globalização e os mais diversos tipos de interação entre países ao redor do mundo é, inevitavelmente, abordado acerca da expansão do comércio mundial e suas consequências. No cenário econômico atual, a internacionalização de empresas tornou-se um diferencial competitivo e uma estratégia de longo prazo fundamental para o sucesso corporativo. Segundo o renomado economista Robert M. Grant, essa reformulação dos modelos de negócios tradicionais visa, sobretudo, retorno sobre os ativos intangíveis, poder de mercado conferido pela atuação em âmbito internacional e ampliação das oportunidades de investimento. É destacável que essas movimentações são possíveis devido à flexibilização das fronteiras comerciais entre países e incentivos governamentais.

A partir disso, muito se discute acerca da influência das multinacionais como agentes macroeconômicos. De um ponto de vista, é possível observar que a atuação desse determinado tipo de empresa em um país estrangeiro é capaz de proporcionar um potencial de crescimento tecnológico e operacional, já que aumenta a possibilidade de contratações locais e, consequentemente, queda das taxas de desemprego. Porém, é impreterível considerar que existem alguns impactos negativamente significativos para as populações de renda mais baixa durante a atuação das grandes corporações em determinados territórios subdesenvolvidos, como, principalmente, a exploração laboral.


O Caso da Nike no Sudeste Asiático

Quando observamos a realidade empírica relacionada à abertura do comércio mundial, nota-se que empresas de cadeia internacional selecionam, especificamente, países subdesenvolvidos para possuir suas bases instaladas. Estes constam com fatores governamentais e sociais suscetíveis para a desvalorização do trabalho de sua população, modo de produção precário e perpetuação de uma globalização seletiva. A partir desse cenário, a fabricação de mercadorias de custo mais baixo e em abundância se tornou um fator gerador de lucro para as grandes corporações.

Um caso de estudo acerca dos fatos mencionados, constitui-se no legado da empresa Nike, uma multinacional americana com sede no estado de Oregon e presença em mais de 170 países ao redor de todos os continentes. Devido a sua influência e reconhecimento global, a Nike possui renome no comércio do setor esportivo, sendo categorizada como uma marca premium por sua estratégia de precificação e marketing. De acordo com a receita anual da empresa, no ano de 2023 a totalização de suas operações arrecadou um faturamento de $51,217 bilhões de dólares, um aumento de, aproximadamente $4,5 bilhões de dólares em relação ao ano financeiro anterior, o que enfatiza a alta valorização da empresa e sua constante expansão no mercado competitivo.

A estratégia de produção da Nike, por sua vez, assemelha-se ao padrão de dominação laboral entre países centrais e periféricos. Na década de 1980, a empresa decidiu investir na realocação de suas fábricas para países asiáticos, visando a máxima eficiência na produção em consequência de custos de mão de obra mais baixos e técnicas de fabricação menos custosas. O Vietnã se tornou o maior produtor da Nike, fabricando 50% dos calçados da empresa e 29% das roupas em 2023. Estima-se que o valor da mão de obra vietnamita é um dos mais baratos do continente asiático, com o salário-mínimo variando de US $132 e US $190 mensais.

Em função dessa busca incessante pela subcontratação de produção a fim de poupar custos, a Nike já foi alvo de diversos escândalos trabalhistas. Em 1991, foi revelado que trabalhadores da Indonésia recebiam apenas 14 cêntimos por hora para atuarem nas fábricas de vestuário da Nike, sob condições insalubres e humanamente terríveis que remetem à escravidão. No ano de 1996, popularizou-se por meio da revista Life, uma fotografia que revelava uma criança paquistanesa participando da montagem de uma bola de futebol da Nike, o que gerou indignação ao redor do mundo. A partir do manifesto desses e de outros casos, a empresa se pronunciou e tomou decisões regulatórias na tentativa de mitigar tais controvérsias.


Ações governamentais e o cenário futuro

Certamente, a exploração do trabalho em países subdesenvolvidos é caracterizada como um problema de responsabilidade global, envolvendo medidas e apoio internacional para seu controle. Em vista disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) fundou, em 1919, a agência Organização Internacional do Trabalho (OIT), representando empregadores e trabalhadores provenientes de mais de 187 países que buscam promover o trabalho decente e produtivo em meios de liberdade, equidade e segurança.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) consta com métricas críticas para a vigilância dos meios de produção de renda em seus estados-membros. Quando há um desalinhamento de expectativas, a reputação comercial de um país pode ser severamente afetada, resultando em impactos significativos em sua economia. Durante a Conferência Internacional do Trabalho em Genebra, no ano de 2019, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) inseriu o Brasil em uma lista de observação após uma suspeita de que a Reforma Trabalhista estava violando os acordos de convenção do trabalho. A decisão do órgão gerou alvoroço nas mídias brasileiras, repercussão governamental e desvalorização na bolsa de valores.

A defesa do Direito Internacional do Trabalho converge com os objetivos estratégicos da Agenda de Trabalho Decente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), dentre os quais compreendem: a definição e a promoção de normas, princípios e direitos fundamentais no trabalho; a ampliação das oportunidades de emprego produtivo e de geração de renda para homens e mulheres; e o aprimoramento da cobertura e da eficácia dos sistemas de proteção social. A crescente disseminação de práticas alinhadas a esses objetivos evidencia uma expectativa de mitigação das condições de precariedade laboral prevalentes em países subdesenvolvidos, considerando a progressiva valorização econômica da responsabilidade social e ambiental das corporações transnacionais. A desigualdade social é um fenômeno de escala global, e que se caracteriza como um desafio complexo, suscetível a transformações impulsionadas por políticas públicas, avanços tecnológicos e pela crescente influência da globalização digital. Um cenário de acentuada desigualdade impede o desenvolvimento do potencial de crescimento econômico e social, o que se tornou uma questão de grande relevância para a sociedade.


Resumo do artigo

O artigo discute a desigualdade econômica global, intensificada pela internacionalização do comércio e modelos de negócio das corporações multinacionais, que favorecem um grupo seleto de economias. A Teoria da Dependência é apresentada como meio científico-social de entender a relação de subordinação de países periféricos aos países centrais, demonstrando a busca por alinhamento estratégico e enfatizando sua dependência econômica. Exemplificado pelo caso da Nike e seus escândalos trabalhistas no Sudeste Asiático, é observado como multinacionais exploram mão de obra e matéria-prima em países subdesenvolvidos. Agências governamentais, como a  Organização Internacional do Trabalho (OIT), buscam promover o trabalho decente e monitoram o cumprimento de acordos, visando promover a responsabilidade social em um cenário com dessemelhante distribuição de poder.




Fontes:



 
 
 

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